Múltis dos EUA aumentam em 70% ganhos no exterior em cinco anos


Como se vê, estão esfolando os demais países. Para aumentar a remessa de lucros, querem de Obama redução drástica do imposto sobre os ganhos offshore, como W. Bush fez

Enquanto ministros brasileiros insistem em que é preciso encher de dinheiro as empresas estrangeiras, e prometem a elas dinheiro público a rodo, estudo divulgado nos EUA revelou que as maiores corporações norte-americanas aumentaram em 15% os lucros mantidos no exterior no ano passado, para um estoque recorde de US$ 1,9 trilhão. O estoque de ganhos dessas empresas no exterior aumentou 70% em cinco anos, assinalou ainda o estudo da Audit Analytics, com base no índice Russel 3000, que computa as 3.000 maiores corporações dos EUA em valor de mercado, conforme a Reuters. A conclusão sobre tamanho aumento dos ganhos offshore das corporações dos EUA é que, para se safarem da crise, estão esfolando os demais países.

Já na análise da Bloomberg, com 83 corporações dos EUA, os ganhos offshore se expandiram em US$ 183 bilhões em 2012, para um estoque acumulado de US$ 1,46 trilhão. Como essas 83 empresas representavam 75% do total, o estoque de lucros acumulados no exterior para as corporações dos EUA chega a US$ 1,9 trilhão. O estudo da Bloomberg incluiu apenas as corporações que, em um dos dois últimos anos, mantiveram lucros offshore fora dos EUA de mais de US$ 4 bilhões.

A GE lidera o rank das corporações que mais abocanham lucros no exterior, com US$ 108 bilhão acumulados, comparado com US$ 102 bilhões um ano antes. A Pfizer é a segunda, com US$ 73 bilhões, seguida pela Microsoft, Merck, Johnson & Johnson e IBM. Os valores são os que foram oficialmente declarados pelas empresas ao fisco. A lista inclui a Apple, Google, Exxon, Citibank, GM e muito mais.

REMESSA DE LUCROS

Isso não quer dizer que não haja repatriamento de lucros – e muito. Como no caso da Pfizer, que no ano passado retornou mais de US$ 30 bilhões para ajudar a pagar sua aquisição da Wyeth. A Merck trouxe mais de US$ 9 bilhões do exterior sem pagar qualquer imposto nos EUA para ajudar a bancar a compra da Schering-Plough. A GM, por exemplo, caprichou na remessa de lucros do Brasil para a matriz.

A Bloomberg tem uma explicação para os holofotes sobre a questão. É que as corporações pretendem alterar a norma atual do imposto de renda que taxa em 35% os ganhos no exterior ao serem repatriados, apesar de possibilitar inúmeros furos (“loopholes”) através dos quais elas só pagam uma taxa ínfima. Para aumentar a remessa de lucros, querem tornar lei um imposto menor, e se espelham no mimo de W. Bush em 2004, que deu uma anistia fiscal para que as corporações repatriassem seus ganhos pagando a modesta taxa de 5,25%. Na época, retornaram US$ 362 bilhões.

Levando-se em conta que essas corporações são também regadas generosamente pelo “quantitative easing” (superemissão de dólares) do Federal Reserve, não é por falta de dinheiro que deixam de investir aqui, e menos ainda dentro do seu próprio país, os EUA.

FRAQUEZA

Ali, a razão essencial é a fraqueza da “recuperação” pós crise de 2008 e o excesso de capacidade ainda vigente na economia dos EUA, além da disposição de extrair do governo Obama, conhecido por sua tibieza, uma nova bonança no imposto sobre esses lucros.

US$ 1,9 trilhão, ou parte substancial disso, devolvidos a uma economia nessa situação, não teriam como gerar retorno, assim, explica-se que nos últimos cinco anos o estoque de lucros mantidos indefinidamente no exterior haja crescido 70%. Aumentar a capacidade produtiva no exterior, nesse quadro, também não seria uma saída. Afinal, para melhorar suas contas externas o governo Obama prometeu dobrar as exportações, situação já sentida pelo Brasil, que se viu, de superavitário no comércio com os EUA a francamente deficitário.

A Bloomberg acrescentou outra contraposição a essa ideia de que o Himalaia de dólares mantidos no exterior poderia gerar crescimento nos EUA. “O argumento de que uma nova isenção de impostos para os ganhos offshore poderia gerar um estímulo doméstico ‘não tem o menor fundamento’, disse Joel Slemrod, ex-economista sênior em impostos do Conselho de Consultores Econômicos de Reagan. As corporações dos EUA já estão sentadas numa pilha recorde de dinheiro – US$ 1,9 trilhão em ativos líquidos, segundo dados do Federal Reserve”. Conforme Slemrod, “o fato de que eles têm essa profusão de dinheiro sugere que o investimento não está sendo constrangido pela falta de dinheiro”.

Isso não quer dizer que essa montanha de dinheiro não esteja à disposição de Wall Street. Relatório do senador democrata Carl Levin, de 2011, com 27 das maiores corporações dos EUA, revelou que 46% dos ativos offshore estavam investidos em bancos dos EUA. De acordo com o professor de Direito da Universidade da Califórnia Meridional, Edward Kleinbard, “sofisticadas corporações dos EUA estão rotineiramente repatriando centenas de bilhões de dólares de ganhos no exterior e pagando trivialmente pequenas taxas nos EUA sobre essas repatriações”, depois de mantê-los em paraísos fiscais. De acordo com a Bloomberg, para repatriar lucros, livre de impostos, as corporações dos EUA “empregam estratégias com apelidos merecedores de thrillers de conspiração dos anos 1970 – incluindo ‘O matador B’ e ‘o Mortal D’”.

ANTONIO PIMENTA

Fonte: Hora do Povo 

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